Não há fruta que simbolize tanto a nossa cultura quanto a maçã. É sempre ela que é desenhada em alguma ilustração do fruto proibido de Adão e Eva. Nos contos de fadas e nas mitologias, a maçã é objeto de tentação ou cobiça, transformando enredos de histórias clássicas como Branca de Neve ou os 12 Trabalhos de Hércules. E reza a lenda que foi a queda de uma maçã que acordou Issac Newton de uma soneca – e também o fez despertar para a Lei da Gravidade.

Entre os prazeres da vida, há alguns que só nos damos conta da importância quando perdemos. Mastigar uma maçã suculenta é um deles. É sempre comovente a alegria relatada pelos meus pacientes que reconquistaram o deleite de morder com vontade a fruta após a realização de alguns implantes dentários, às vezes depois de anos só tendo contato com a polpa raspada por uma colherinha.

Todo esse histórico de fantasia deve contribuir para a maçã ganhar ares quase mágicos no senso comum sobre saúde. Em países de língua inglesa, por exemplo, é conhecido o provérbio “an apple a day keeps the doctor away” (uma maçã por dia mantém o médico longe). Sem desdenhar das propriedades nutritivas desta fruta, rica em fibras, vitaminas e sais minerais, sabemos hoje que um alimento isolado não tem o poder de deixar a saúde em dia, e sim uma dieta diversificada combinada com muitos outros fatores.

No Brasil, temos nossa própria meia-verdade sobre a maçã na saúde. É a história de que comer uma maçã depois das refeições equivale a uma escovação dental. Não é bem assim. Comer a fruta pode até ser uma solução de improviso quando não há escova, pasta e fio dental por perto. Porém, é bom deixar claro: a maçã não tem o poder de remover a placa bacteriana. Além disso, é um alimento que contém ácidos e açúcares, ou seja, seu consumo pode até causar danos aos dentes se não houver escovação poucas horas depois da ingestão.

Mas, como já adiantei acima, a maçã de fato pode servir como uma solução de emergência. Isso porque suas propriedades ácidas e adstringentes, somadas ao atrito gerado pela mastigação, funcionam para remover a sujeira superficial dos dentes.

Fonte de cálcio, a maçã é também dura e fibrosa. Ao ser consumida, massageia os tecidos das gengivas e estimula a salivação, o que pode ajudar a evitar cáries. Além disso, por conta da textura firme, é recomendada ao longo do desenvolvimento das crianças para minimizar problemas de mordida como má oclusão.

Como já deu para perceber, a maçã sozinha não tem a força de manter o médico longe – nem o dentista. Mas pode ser uma ótima aliada na saúde bucal de crianças e adultos. Que as maçãs continuem servindo de alimento para o corpo e de inspiração para histórias. Se nos contos de fada o fruto tem a temível capacidade de expulsar gente do paraíso e fazer princesas dormirem para sempre, na vida real é mais fácil evitar seus riscos. Basta ter uma escova de dentes por perto.