Começando a escrever este texto de hoje, percebi o quão nostálgico eu estou. É uma mistura de sentimentos: já começo a sentir falta desta ponte-área Porto Alegre-Boston, mas também feliz por estar finalizando o programa OPM de Harvard. Tudo isso somado à minha saudade de casa, da clínica e dos pacientes.

De repente, passa um filme na minha cabeça: lembro de todas as vindas a Boston, inclusive dos invernos longos e intensos, recordo as centenas de páginas estudadas, lembro das aulas, discussões e debates, dos professores, dos eventos, dos encontros… Mas o que mais me aquece o coração é lembrar dos colegas e das amizades que eu fiz por aqui e que vou levar para o resto da vida.

Como já comentei aqui, esse programa de Harvard recebe profissionais do mundo todo. É um grande caldeirão cultural, enriquecendo ainda mais toda esta experiência. Além de eu ter aprendido muito com o conteúdo formal do programa, aprendi infinitamente mais com as relações e conexões que eu criei aqui. Poder olhar o mundo com as lentes de tantos colegas talentosas de países e profissões diferentes, certamente me fez uma pessoa ainda mais versátil e um profissional também melhor.

E olha como nossa mente é uma máquina incrível: estando a mais de 8.000 km de casa, estou lembrando muito de um paciente que tive há uns 5 anos: seu Carlo. Italiano alto, mas sem nenhum sotaque. Apenas usava algumas expressões em italiano, provavelmente vícios linguísticos dos anos que morou lá e/ou expressões comuns que ele continua ouvindo em família. Óculos finos, pele clara, mas com algumas manchas de sol (seu Carlo, olha o protetor solar!), cabelo já todo branco, mas farto: não havia “entradinhas” de calvície.

La vita è bela, não é mesmo, seu Carlo?!
Seu Carlo foi um paciente meu que nasceu na Itália (alguma cidade ao sul, não me recordo bem) e com uns 12 anos, sua família veio para o Rio Grande do Sul. Estudou e trabalhou desde cedo no comércio do seu pai. Aos 40 anos, ele já era um dos grandes empresários da região. E foi com esta idade que ele voltou a visitar a sua cidade natal para umas férias.

Décadas depois, ele me relatou como foi a sensação: “Dr.Rogério, quando cheguei lá, senti-me novamente com meus 10-11 anos. As ruas estavam diferentes, a minha casa já não existia mais… mas, ao mesmo tempo que tudo tinha mudado, alguma coisa era igual: não sei se as cores ou o cheiro… algo ali me transportava para a minha infância”.

E essa conversa com seu Carlo durou algum tempo, ele me detalhando da experiência e de todas as outras vezes que foi lá de férias. Agora, me pego pensando nele. Uma coisa que ele comentou e me marcou: “Independentemente de quantas voltas a gente dê pelo mundo e seja feliz por aí, nossa casa sempre vai ter um lugar especial: como se fosse um ninho sempre te esperando ou um abraço quente e aconchegante!”.

Seu Carlo é mesmo sábio: ele sabe valorizar as coisas que realmente são importantes. Ele é muito grato ao Brasil, que é o país que o acolheu, onde ele conheceu a sua esposa, nasceu os seus filhos e criou um negócio tão próspero. Mas também ele sabe o quão é importante valorizar às nossas raízes e se orgulhar delas.

É esse sentimento que invade meu coração neste momento: viver esta experiência em Harvard ao longo de 4 anos foi incrível e inenarrável: mas a sensação de estar com saudade de casa e querer voltar para o meu “ninho acolhedor” é muito, muito grande. Porto Alegre, me espera que eu estou voltando!!! (Risos).

Então, meus amigos e minhas amigas, qual é a minha provocação para o final de semana: valorize seu ninho. Valorize aquele lugar no qual você se sente acolhido, feliz, quentinho… Se você está longe dele, tente se programar para reabastecer as energias lá. Se você está nele, curta os pequenos momentos de saborear um café ou comer um bolo recém saído do forno. Abrace aqueles que você ama: o mundo cabe em um abraço!

Bom final de semana!