Escolher um presente para alguém mais velho é um desafio para muitas pessoas. Afinal, seria melhor encher os olhos com algum dispositivo tecnológico, que provavelmente acabará esquecido na gaveta, ou seguir por um caminho mais simples, como um novo blusão ou casaco para o frio? Surpreendentemente, os melhores presentes na terceira idade são os que tocam ao coração, nem sempre são palpáveis.

Ao longo da trajetória em meu consultório odontológico, tive a oportunidade de presenciar histórias fabulosas de afeto e amor sincero que formaram meus propósitos profissionais, trazendo um sentido único ao trabalho com meus pacientes. Uma dessas histórias é da Bia, uma jovem senhora de 55 anos que agendou uma consulta surpresa para sua mãe avaliar a possibilidade de implantes dentários, como presente de aniversário. – “Minha mãe é de origem humilde, nunca teve condições de
se preocupar com estética ou saúde dental. Ela está completando 80 anos, então quero fazer algo significativo por ela.”

Pesquisas relacionadas à felicidade em diferentes faixas etárias demonstram que as experiências que tornam as pessoas mais felizes tendem a mudar com o passar dos anos. Os jovens acreditam que tem um futuro longo pela frente e por isso buscam o extraordinário, aventuras e vivências que fujam da rotina. Porém, ao envelhecer, percebem que o
tempo é limitado e, a partir daí, valorizam mais os prazeres comuns e rotinas diárias.

A explicação para isso é que os jovens estão construindo a própria identidade e tentando descobrir quem desejam se tornar. Viver experiências novas ajuda a estabelecer a identidade pessoal e, portanto, são valorizadas nessa fase da vida. Então, à medida que as pessoas estabelecem a própria personalidade, as vivências comuns tornam-se centrais para um senso de si mesmo, sendo mais valorizadas pelos idosos.

Quando conversei com Bia ao telefone, ela relatou que, ao se aposentar, sua mãe passou a sentar todos os dias no saguão do condomínio onde moravam juntas. Era querida por todos os vizinhos e famosa por ser muito espontânea e desinibida. – “É impossível ficar sério ao lado dela. Sei que tenta disfarçar, mas percebo que ela sente vergonha dos dentes que perdeu, quase nunca sorri nas fotos.”

Rotinas simples como socializar com os vizinhos, cultivar uma horta ou ardim, fazer uma caminhada diária, ou almoçar em seu restaurante predileto ganham novo sabor na terceira idade. Ao perceber que a vida tem
prazo de validade e que o tempo restante está ficando escasso, cresce a expectativa por desfrutar intensamente daquilo que você adora fazer todos os dias. Esse prazer encontrado nas pequenas coisas da vida também demonstra que os momentos mais felizes não estão relacionados a bens
materiais, mas sim a experiênciascompartilhadas.

Bia não se limitou a assinar um cheque para presentear sua mãe com um sorriso perfeito, fez questão de acompanhar todo processo com dona Judite, a senhora simpática que conquistou todos aqui na clínica. Pude observar nos olhos de Judite, além da surpresa inicial, um brilho singular nos olhos ternos de emoção. – “Doutor, eu estava feliz em comemorar numa casa de chá. Isso vai além de tudo que podia sonhar em pedir. Minha filha, este ano vamos chamar um fotógrafo?” – Bia piscou para mim sorrindo. Missão cumprida.

Ainda que investir no sorriso esteja acima das suas possibilidades, o fato é que, para quem atingiu a terceira idade, um presente especial não precisa ser algo inédito ou sofisticado. A verdade é que, para os idosos, estar próximo de quem se quer bem faz mais sentido do que receber um embrulho bonito amarrado com fitas. Assim sendo, um final de semana com a família, jantar em seu restaurante preferido e até mesmo um tratamento estético pode ser o mais significativo dos presentes.