Já estou há diversos dias aqui em Boston, como comentei com vocês no meu último texto, finalizando o programa OPM em Harvard. Eu sou muito observador: durante os finais de semana que tenho mais tempo livre, acabo dando curtos passeios pela cidade, museus, restaurantes, mercados…

E uma coisa que me chamou muita atenção foi a alta dos preços desde que vim aqui pela última vez. Não me refiro à questão cambial em relação ao real, mas sim aos preços em dólar: percebi que muitas coisas, simplesmente, aumentaram de preço.

Seja em férias, seja por questões de estudo e trabalho, costumo vir aos Estados Unidos com alguma frequência. E agora, pela primeira vez, que este fenômeno inflacionário para mim ficou tão visível e marcante.

Mudança na Ordem Mundial?
Lembrei-me que tinha lido algo sobre isso no último livro de Ray Dalio. Já falei aqui sobre ele, mas em relação a outro livro (Princípios).

Ray Dalio ficou famoso prevendo a crise financeira de 2008. Esse novo livro chamado de “A mudança da ordem mundial” foi publicado no finalzinho de 2021.

O objetivo da obra foi tentar compreender melhor o ambiente econômico atual e os desafios que ele apresenta, investigando séculos de altos e baixos econômicos.

Como sempre, Dalio usa um tom provocativo o que pode acontecer a seguir com a economia. Existem poucos livros que mapeiam de forma coerente histórias econômicas tão abrangentes como as de Dalio. Talvez ainda mais incomum, o autor conseguiu identificar métricas dessa história que podem ser aplicadas para entender o presente. Ele examinou quatro impérios: o holandês, o britânico, o americano e o chinês.

O futuro repetindo o passado
Assim, ele examina os períodos econômicos e políticos mais turbulentos da História para revelar porque é que os próximos tempos serão radicalmente diferentes do que temos experienciado em nossas vidas atualmente. Porém, serão bem semelhantes ao que já aconteceu muitas vezes antes na História. Como diz uma música do Cazuza: “Eu vejo o futuro repetir o passado”.

Há alguns anos, Dalio observou uma concentração de condições políticas e econômicas com que nunca se tinha deparado. Entre elas, enormes endividamentos e taxas de juros quase zero. Essas condições levaram à impressão massiva de dinheiro nas três principais moedas de reserva do mundo (inclusive, aí, o dólar).

Além destas questões, têm-se os grandes conflitos políticos e sociais internos nos maiores países, especialmente aqui nos Estados Unidos. E, por fim, o crescimento de uma potência mundial (a China) desafiando a potência mundial atual (EUA) e a ordem mundial existente.

Em uma entrevista, o autor traz algumas reflexões “otimistas”, dentro de uma realidade que eu considero “incômoda”: para ele, o pior cenário não afeta a maioria das pessoas tanto quanto parece ao se ler a respeito. Ele cita como exemplo a Grande Depressão: neste momento da nossa história, a maioria das pessoas continuou empregada e, durante as guerras, a maioria das pessoas continuaram também vivas.

Com sua ironia habitual, ele finalizou a entrevista com a seguinte frase: “Eu tenho um princípio: se você está preocupado, então não precisa se preocupar. E se você não está preocupado, daí precisa se preocupar”. Bem… eu estou preocupado. Logo, está tudo bem! Risos.

E essa semana, na roda de conversa dos colegas entre as aulas aqui em Harvard, várias pessoas que vieram das mias diversas partes do mundo estavam comentando a mesma coisa: estavam achando as coisas mais caras este ano. Tenho colega alemão, chinês, australiano, inglês… todos comentaram o mesmo: tanto em seus respectivos países, como aqui em Boston, está perceptível esse aumento de preços, em menor ou maior grau. E eu comentei sobre esse livro de Dalio e todos ficaram super curiosos e intrigados. Expliquei sobre sua teoria de ciclos, dos grandes impérios… Acho que muitos dos meus colegas vão comprar o livro para discutirmos mais na próxima semana. E eu, obviamente, estou empolgado para saber os diferentes pontos de vista.

Então, meus amigos e minhas amigas, qual é a minha provocação para o final de semana: caso vocês tenham gostado das reflexões de Dalio, pesquisem na internet entrevistas com ele. Ele usa uma linguagem bem simples e didática para assuntos bem complexos. E depois me contem o que vocês acharam.

Bom final de semana!