Quem aqui já me acompanha há mais tempo sabe da minha “ponte-aérea” com Boston. Eu sou aluno do programa OPM de Harvard. Devido à pandemia, preferi esperar o retorno das aulas presenciais para finalizar o último módulo.

Das outras vezes que vim para Boston, optei por deixar já as colunas deste jornal escritas, para não ter aquela “pressão” de ter que escrever durante o curso.

Mas este ano quis fazer bem diferente: para ficar ainda mais perto de vocês, optei por escrever as colunas daqui, em uma série intitulada de From Boston. Eu estava muito animado em contar para vocês, quase em tempo real, algumas impressões e pensamentos daqui.

Porém, inicio esta série de maneira muito triste, reflexiva e respeitosa. O ataque que ocorreu no Texas, há poucos dias, não sai da minha cabeça (e, provavelmente, da maior parte das pessoas aqui nos Estados Unidos).

Boston que, durante a primavera já começa a ficar com uma pitada de cores alegres, está com um aspecto mais cinza e melancólico. Todas as bandeiras estão hasteadas a meio-mastro há alguns dias como forma de marcar o luto e de homenagear silenciosamente às vítimas.

O massacre no Texas
O massacre ocorreu por volta de meio-dia, em uma escola de ensino fundamental no Texas, na cidade de Uvalde, no dia 24 de maio. Foi um total de 21 vidas ceifadas, sendo 19 crianças e 2 professoras.

Se fosse um caso isolado, por si só esta tragédia já seria cruelmente marcante. Porém, o que mais me assusta e me entristece é que, infelizmente, situações trágicas como esta ocorrem com uma certa frequência por aqui.

Ao longo das últimas décadas, os Estados Unidos já registraram dezenas de casos similares, sempre muito parecidos: um atirador, em muitos casos ex-alunos das próprias escolas, entra no colégio e mata os alunos e professores, indiscriminadamente.

Há quase 10 anos…
Acredito que, para além da sociedade americana como um todo estar marcada com a frequência sinistra de tais tragédias, a cidade de Boston tem feridas ainda mais profundas, apesar de serem situações muito distintas na forma, mas similares na dor.

No dia 15 de abril de 2013, durante a Maratona de Boston (uma das mais tradicionais do atletismo), duas bombas foram detonadas a poucos metros da linha de chegada. Vinte e sete mil corredores participavam da prova, enquanto 500 mil pessoas assistiam à corrida.

Com a prova passando das quatro horas de duração, os “atletas de elite” já haviam completado o percurso. Naquele momento, apenas competidores amadores corriam rumo à linha de chegada, tudo em um clima de superação e alegria.

No total, três pessoas morreram, incluindo uma criança, e mais de 200 ficaram feridas.

As escolas americanas marcadas por dezenas de tragédias
E todo esse clima de que “a qualquer momento podemos enfrentar um massacre ou um atentado” marca a sociedade americana.

Desde o Massacre de Columbine (1999), muitas escolas americanas vêm reforçando sua segurança com a instalação de detectores de metais, portas reforçadas, software de reconhecimento facial, coletes, mochilas e até lousas à prova de bala.

Também são comuns nas escolas americanas exercícios de simulação de tiroteios, em que alunos e professores praticam rotas de fuga e algumas medidas como trancar portas de salas de aula com cadeiras ou mesas.

Desde muito jovens, as crianças passam por este treinamento. Imagino que seja importante tais treinamentos para que elas saibam o que devem fazer caso passem por uma situação trágica como esta. Mas só fico pensando o que deve passar pela cabeça de tais crianças que, desde muito cedo, precisam conviver com esta possibilidade.

Sempre haverá luz
Sei, meus amigos e minhas amigas, que este é um dos textos mais pesados que já escrevi aqui. No geral, gosto de banhar o final de semana de vocês com leveza e alegria.

Porém, impossível não ficar profundamente tocado e marcado pelas coisas que estou presenciado aqui neste momento. Desde situações explícitas, como o acompanhamento dos telejornais locais, até aquilo que é muito mais sutil, mas igualmente perturbador: ver as pessoas andando pelas ruas de maneira tensa, olhando para os lados, sempre achando que algo de ruim pode acontecer.

Por isso, qual é a minha provocação para este fim de semana? Vamos fazer um minuto de reflexão por todas as pessoas que convivem, diariamente, com a possibilidade de violência (nas suas diferentes formas) e agradecer pela PAZ que temos dentro de casa. A gente está tão acostumado a se lamentar pelo que não tem e esquece, muitas vezes, de agradecer pelos que TEMOS. Paz e tranquilidade diária são uma dádiva!

Bom final de semana!