Dona Lourdes foi uma das minhas primeiras pacientes. E, de certa forma, foi também uma professora. A partir da sua franqueza e curiosidade, aprendi algo determinante para um cirurgião-dentista, mas que as universidades, cursos de especialização e congressos que frequentei mundo afora não conseguem  ensinar: a diferença entre o medo e a fantasia de um paciente.

Quando me procurou, Dona Lourdes não era receosa. Era desconfiada. Em nossas primeiras consultas, falamos sobre a validade de realizar um tratamento com implantes dentários para substituir um par de dentes perdidos. Com o procedimento, haveria uma recuperação significativa da função mastigatória, além de renovação estética do sorriso.

Na tela do monitor, mostrei à paciente que o implante funciona como um pequeno parafuso para substituir a raiz do dente. A peça é feita de um material biocompatível com o tecido ósseo onde é fixada, proporcionando uma base estável para fixar próteses que funcionam como dentes naturais.

A paciente escutava tudo atentamente, apontava para as imagens e fazia perguntas. Já quase no final da consulta, disse a ela:

– A cirurgia de implante é simples e rápida. Vai levar menos de uma hora. Além disso, é totalmente indolor.

Dona Lourdes então me olhou com as sobrancelhas arqueadas, como quem acaba de ouvir uma história confusa, e disparou:

– Olha, doutor, achei muito adequado o tratamento com implantes e estou disposta a ir adiante. Mas não precisa dizer que isso não dói. Estou em uma idade em que já vi de tudo. Já passei por restauração, extração, tratamento de canal… Tudo isso foi doloroso, imagina então colocar um parafuso de titânio no meu osso. Pode me convencer de tudo, menos que isso seja indolor.

Tentei explicar a Dona Lourdes o porquê de não haver dor, mas ela estava irredutível. Mas, com a firmeza que marca seu caráter, seguiu adiante no tratamento, mesmo convicta de que ia enfrentar um processo doloroso.

Foi só após a cirurgia que finalmente me deu razão.

– Não senti nada. Já terminou? – perguntou ainda incrédula, após o procedimento.

De fato, a colocação de implantes dentários não costuma envolver dor alguma. A região óssea não é particularmente sensível, e os tecidos próximos são anestesiados adequadamente para não gerar desconforto. No pós-operatório, pode haver inchaço, mas os cuidados são simples e a recuperação é rápida.

O que aprendi com Dona Lourdes é que o maior vilão dos pacientes não é exatamente superar o medo da dor dos implantes dentários, mas compreender que esse medo sequer tem razão de existir. Para muitos, é difícil aceitar que um tratamento, capaz de gerar tantos benefícios, seja muito mais simples e indolor do que uma extração ou um tratamento de canal, por exemplo. Para quem cresceu associando a visita ao dentista com desconforto e aflição, parece bom demais para ser verdade. Mas, felizmente, essa é a realidade. Viva o avanço da implantodontia!