Esses dias, assistindo a uma entrevista de um filósofo brasileiro que traduz pensamentos profundos em coisas simples — me deparei com uma frase que não saiu mais da minha cabeça: “A felicidade é a pretensão ilusória de converter um instante de alegria em eternidade”. Fiquei pensando nisso por dias. Será que, no fundo, nossa busca pela felicidade não passa de uma tentativa de eternizar momentos que, por natureza, são passageiros?

É como aquele domingo ensolarado, cercado pela família, risadas soltas no ar, uma boa comida na mesa… Você olha em volta e pensa: “Queria que esse momento durasse para sempre”. E aí está o ponto! Esses instantes de alegria são reais, mas a ideia de que podemos transformá-los em algo eterno talvez seja o grande engano. 

A vida é feita de momentos. A felicidade, então, não seria um destino, mas sim a forma como vivemos e nos conectamos ao que (e a quem) está ao nosso redor.

Esse pensamento filosófico me lembrou de um dos estudos mais fascinantes já realizados sobre a felicidade e a vida humana: o Harvard Study of Adult Development. Iniciado em 1938 e ainda em andamento, esse é um dos estudos mais longos da história, com o objetivo de responder a uma pergunta simples, mas poderosa: o que realmente nos mantém felizes e saudáveis ao longo da vida? A pesquisa acompanhou centenas de pessoas por mais de 80 anos, analisando sua saúde física, emocional, profissional e social.

O resultado? Não foram a riqueza, o sucesso profissional ou até mesmo os bons hábitos de saúde os fatores mais determinantes da felicidade e da longevidade. O que realmente se destacou foi a qualidade das relações humanas. Ter vínculos afetivos verdadeiros, amizades próximas, relações familiares saudáveis, tudo isso se mostrou mais importante do que qualquer outro fator isolado. 

Ou seja, não é o quanto você tem, mas com quem você compartilha a vida. E isso, para mim, como dentista e observador da alma humana, faz todo o sentido.

E talvez por isso o Brasil seja um dos países onde, mesmo diante das dificuldades, ainda se encontra tanto sorriso fácil, abraço apertado e roda de conversa na calçada. Somos, por natureza, um povo muito sociável. Gostamos de estar juntos, de compartilhar histórias, de rir em grupo. Essa característica cultural não é apenas bonita, ela é também um fator de proteção para a nossa saúde emocional. Em um mundo onde tantas conexões viraram digitais, preservar esse traço tão humano é um verdadeiro tesouro.

Esses dias, conversando com a Rosana, paciente querida há anos, ela me contou algo que ficou comigo: “Doutor, eu falo com meus filhos todos os dias pelo celular, mas nada se compara ao café que tomamos juntos no domingo”. E é verdade. A tecnologia encurtou distâncias, mas não substitui olhares, toques e sorrisos ao vivo. As mensagens são práticas, mas o abraço cura de um jeito que nenhuma tela consegue.

No fundo, o que o estudo de Harvard mostra, o que Rosana sente e o que todos nós já percebemos em algum momento é que: pessoas felizes vivem mais. E não é por causa de uma fórmula mágica — é porque elas vivem com mais. Com mais vínculos, mais afeto, mais presença. 

E você, tem vivido perto de quem faz a sua alma sorrir? Cultivar bons vínculos é um presente que você dá para a sua saúde.