Quando a dor de dente aparece, é comum pensarmos em buscar ajuda imediata de um dentista. Mas e se o acesso a esse atendimento fosse tão difícil que a única solução fosse pegar um alicate e resolver o problema você mesmo? No Reino Unido, essa é uma realidade alarmante para muitos, em meio a uma crise de saúde odontológica que está levando os britânicos a tomarem medidas extremas e perigosas.
Esse fenômeno é conhecido como “auto-odontologia”, onde as pessoas, por desespero ou falta de acesso a serviços profissionais, tentam realizar procedimentos odontológicos em casa. Casos absurdos, como colar próteses dentárias com “supercola”, ou tentar extrair dentes com ferramentas inadequadas, estão se tornando, infelizmente, mais comuns.
Um exemplo extremo aconteceu com um britânico que, sem outra alternativa, tentou remover 13 dentes usando um alicate e vodka como anestésico. Essa prática arriscada é mais do que uma questão de saúde bucal: ela reflete a profunda crise que afeta o sistema odontológico no Reino Unido.
O Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS) sofreu o maior corte orçamentário voltado para a odontologia em décadas. Com isso, muitos britânicos perderam o acesso a dentistas por meio do NHS, forçando um número crescente de pessoas a se tornarem “seus próprios dentistas”.
Esses cortes não apenas dificultaram o acesso a tratamentos preventivos e restauradores, mas também colocaram os cidadãos em uma posição desesperadora, levando-os a realizar procedimentos perigosos em casa.
Ser o seu próprio dentista não só te expõe a riscos imediatos, como infecções e danos permanentes, como também pode ter consequências a longo prazo. Ferramentas não esterilizadas e técnicas inadequadas frequentemente usadas em casa podem introduzir micróbios, resultando em infecções graves que, em alguns casos, requerem cirurgias invasivas para correção. Ou até mesmo septicemia.
Além disso, uma extração feita de maneira incorreta pode deixar fragmentos de raiz dentro do tecido ósseo, causando inflamações, infecções e impedindo a correta formação de tecido ósseo saudável, exigindo re-tratamentos e procedimentos que poderiam ter sido evitados. A prática de auto-extração também pode alterar a biomecânica da mordida (oclusão), dificultando a alimentação e danificando outros dentes e estruturas adjacentes.
A situação é ainda mais preocupante quando algumas pessoas recorrem à “auto-odontologia” para fins estéticos. A busca por um sorriso perfeito, somada à falta de acesso a tratamentos odontológicos, leva muitas pessoas a tomarem medidas perigosas.
Lendo essa matéria sobre a crise no Reino Unido, até me lembrei de uma vez que atendi um caso semelhante. Um jovem de 30 anos chamado Pedro, na tentativa de deixar seu sorriso mais “uniforme”, decidiu lixar os próprios dentes com uma lixa de unhas. Ele queria suavizar pequenas irregularidades, mas o resultado foi preocupante. Pedro acabou desgastando o esmalte dos dentes, desgaste esse irreversível, deixando a estrutura dental extremamente fragilizada. Quando chegou ao consultório, já sofria com sensibilidade extrema, problemas oclusais e algumas trincas e fraturas dentárias. O desgaste descontrolado também alterou o formato harmonioso dos dentes, comprometendo a estética e a funcionalidade da sua mordida.
Tivemos que iniciar um tratamento para restaurar o esmalte e proteger seus dentes de danos futuros, mas o caso dele é um exemplo claro dos perigos de tentar realizar procedimentos odontológicos sozinho.
Diante dessa realidade, é essencial reforçar a importância de buscar atendimento odontológico profissional e adequadamente qualificado. Mesmo que os serviços sejam difíceis de acessar, os riscos envolvidos em tentar ser o seu próprio dentista são muito maiores do que qualquer benefício temporário.
A crise no Reino Unido serve como um alerta para que ninguém recorra à “auto-odontologia”. Cuide do seu sorriso com a segurança e o conhecimento de um profissional qualificado, garantindo que sua saúde bucal esteja sempre em boas mãos.