Ir ao dentista pode parecer, à primeira vista, um cuidado essencialmente estético ou apenas uma forma de tratar problemas bucais pontuais, como cáries ou gengivites. No entanto, a odontologia vai muito além disso. 

A saúde bucal está profundamente conectada com a saúde geral do organismo, influenciando desde o sistema digestivo até o cardiovascular. E mais recentemente, estudos vêm revelando uma ligação ainda mais preocupante: a relação entre doenças periodontais e o desenvolvimento de distúrbios neurodegenerativos, como a Doença de Alzheimer.

O National Institute on Aging (NIA), uma agência federal dos Estados Unidos, é um dos principais centros de pesquisa sobre o envelhecimento e a saúde dos idosos. Suas investigações abrangem desde fatores genéticos até hábitos cotidianos que podem influenciar o desenvolvimento de doenças na terceira idade. 

Entre os diversos aspectos analisados, a saúde bucal tem se destacado como um fator fundamental, revelando uma conexão direta entre infecções orais e o declínio cognitivo.

Buscando entender essa conexão, este Instituto realizou um estudo complexo acompanhando mais de 6.000 participantes ao longo de 26 anos. Os pesquisadores analisaram exames odontológicos e testes sanguíneos para identificar a presença de anticorpos contra bactérias associadas a doenças gengivais. 

O resultado foi alarmante: a bactéria Porphyromonas gingivalis, frequentemente ligada à periodontite, foi a que mais apresentou associação com o desenvolvimento de demências. Outras evidências também sugerem que essa bactéria pode estar envolvida na produção da proteína beta-amiloide, um dos principais marcadores da doença de Alzheimer. Esses achados reforçam a ideia de que a saúde bucal não pode ser vista de forma isolada – ela pode influenciar diretamente a saúde do cérebro.

A relação entre a periodontite e o Alzheimer vai além da simples presença de bactérias na boca. A inflamação crônica causada por infecções gengivais pode desencadear uma resposta imunológica intensa, liberando substâncias inflamatórias que circulam pelo organismo e atingem o cérebro. Esse processo pode acelerar a neurodegeneração e agravar o declínio cognitivo em pacientes predispostos à demência.

Desta forma, a perda dentária decorrente da periodontite pode estar diretamente associada ao aumento do risco de Alzheimer. Estudos indicam que pacientes com menos dentes ou sem reabilitação oral adequada apresentam maior probabilidade de desenvolver a doença. A mastigação estimula o cérebro, e a ausência de dentes reduz esse estímulo, favorecendo o comprometimento cognitivo.

Diante dessa conexão preocupante, a prevenção e o controle da saúde bucal tornam-se ainda mais fundamentais. Uma rotina de higiene rigorosa, com escovação adequada e o uso regular do fio dental, pode evitar o acúmulo de bactérias e impedir que infecções se instalem. Consultas odontológicas periódicas são indispensáveis para identificar e tratar precocemente qualquer sinal de inflamação gengival, reduzindo o risco de complicações a longo prazo.

No entanto, quando falamos de pacientes com Alzheimer, os desafios da higiene bucal são ainda maiores. Com a progressão da doença, muitas dessas pessoas perdem a capacidade de realizar sua própria higienização de forma eficiente. A dificuldade em compreender comandos, a perda da coordenação motora e a resistência ao cuidado são obstáculos que familiares e cuidadores enfrentam diariamente.

Nesses casos, adaptar a rotina de higiene bucal é essencial. O uso de escovas elétricas pode facilitar a escovação, e cuidadores devem ser treinados por dentistas para realizar a higienização da melhor forma possível. Nos estágios mais avançados da doença, mudanças no comportamento ou dificuldades para se alimentar podem ser os únicos sinais de um problema odontológico, tornando a avaliação frequente ainda mais importante.

A boca é a porta de entrada para a nossa saúde, e um sorriso bem cuidado vai muito além da estética – é um reflexo do cuidado que temos com o nosso corpo e mente. Pequenas atitudes diárias podem fazer toda a diferença no presente e no futuro. Pense nisso e continue sorrindo com saúde.