Ela não procurava apenas um tratamento dentário. Procurava se reencontrar com a mulher que havia se perdido no tempo — e encontrou no espelho algo que jamais esperava.

Dona Aurora entrou no consultório com passos firmes, mas com o olhar de quem ainda carrega inseguranças guardadas há tempo demais. Vestia elegância, usava um perfume discreto, e trazia no rosto um sorriso… quase.

Era um sorriso contido. O tipo de sorriso que tenta existir, mas é interrompido pelo hábito de esconder. Seus lábios sorriam, mas seus dentes, não.
“Doutor, eu me separei depois de 28 anos de casamento”, disse, cruzando as pernas com certa rigidez.
“E agora… agora preciso reaprender a gostar de mim.”

Aquela frase ficou no ar como quem pede licença para ser ouvida de verdade.

Ao longo da consulta, entendi mais sobre Dona Aurora do que qualquer ficha poderia contar. Empresária bem-sucedida, mãe dedicada, amiga leal — mas alguém que passou anos esquecendo da própria estética, da própria autoestima, da própria essência.
“Eu não me reconheço mais”, confessou. “E pior: não gosto do que vejo no espelho.”

Foi então que conversamos sobre algo mais do que dentes. Falamos de recomeços. De como às vezes a vida nos dá, não uma segunda chance, mas a chance de nos escolhermos pela primeira vez.

Dona Aurora topou o tratamento. Disse que queria porcelanas “que parecessem dela, mas de uma versão dela que nunca existiu.” Achei essa frase linda e verdadeira. Fizemos um planejamento cuidadoso, desenhado com o mesmo zelo de quem sabe que, por trás de cada faceta, existe uma história.

As semanas passaram. Sessão após sessão, vi aquela mulher voltar a florescer. O tom da voz mudou. A postura. Até o riso. Um dia, enquanto ajustávamos os últimos detalhes, ela soltou uma gargalhada sincera. Daquelas que a gente não ouve — a gente sente. Foi ali que percebi: ela já estava voltando para si.

Na última consulta, antes de eu entregar o espelho, perguntei:
“Dona Aurora, a senhora está pronta para se ver de verdade?”

Ela sorriu com os olhos. Pegou o espelho com as mãos trêmulas. E ficou ali, em silêncio, encarando o próprio reflexo. Uma lágrima escorreu — não de tristeza, mas de reencontro.
“Sim”, ela disse.
“Sim pra mim. Sim pra essa mulher aqui na frente. Sim pro que ainda posso ser.”

Naquele momento, entendi que próteses em porcelana podem devolver muito mais do que estética. Podem devolver dignidade. Autoestima. Identidade.

Às vezes, não é sobre dentes. É sobre coragem. É sobre olhar no espelho e, depois de tanto tempo, dizer:
“Eu gosto do que vejo.”

E se você ainda esconde o seu sorriso, talvez esteja na hora de pensar: o que você está deixando de viver por isso?

Acredite: é possível — e pode ser mais simples do que você imagina.