Num mundo cada vez mais caótico, com trabalhos cada vez mais exigentes, é comum olharmos para o calendário e pensarmos: “quanto tempo falta para eu aposentar?”. Ficamos até um pouco frustrados quando vemos que ainda teremos que trabalhar por mais vários e vários anos. Nessas horas, no fundo, gostaríamos de não ter aquelas obrigações. O nosso desejo é ter um descanso ou, simplesmente, fazer aquilo que realmente estamos com vontade: ver um filme, dormir mais um pouco, passear no parque, visitar um amigo. A aposentadoria torna-se um objetivo de vida. Afinal, será o momento em que finalmente não precisaremos mais trabalhar. Bem, isso é o que acreditamos, mas não passa de uma grande mentira. Calma! Vou explicar melhor.
A aposentadoria significa o fim de apenas um ciclo, mas ela dá início a uma nova etapa, que pode ser muitíssimo boa, mas, ao mesmo tempo, trazer muitos prejuízos se não tomarmos cuidado. Segundo um estudo produzido na Universidade de Binghamton, em Nova York (EUA),
os idosos que se aposentam mais cedo podem apresentar uma aceleração no declínio cognitivo, apresentando maior perda de memória, falta de atenção e dificuldades de raciocínio lógico. Isso porque aqueles aposentados reduziram suas interações sociais e ficaram ociosos. Um dos pesquisadores afirmou que “envolvimento social e a conexão podem ser, simplesmente, os fatores mais poderosos para o desempenho cognitivo na idade avançada”. Claro, ao sairmos do mercado de trabalho, deixamos de ter uma rotina bem definida, o contato com os colegas de trabalho diminui drasticamente e, finalmente, temos um tempo livre enorme, que precisa ser bem administrado para mantermos a nossa saúde física e mental. Ao ler esse estudo, lembrei-me da Dona Lívia, uma paciente que, atualmente, na faixa dos 70 anos. Durante uma de nossas consultas, contou-me que havia se aposentado há mais de 10 anos como auditora federal e, naquele momento, administrava uma creche de crianças e promovia almoços e bazares beneficentes, corrigia livros, participava de um grupo de canto de “jovens senhoras” e estava estudando francês e alemão. Além disso, ela escrevia livros de contos e poemas. Surpreso com sua vitalidade e energia, perguntei qual seria o seu segredo. Ela me respondeu com carinho: “Meu filho, o segredo é nunca parar de trabalhar, seja qual for o seu trabalho. A gente diminui o ritmo, é claro, mas não podemos ficar parados não, porque se não o corpo acostuma a ficar na preguiça e, quando a gente percebe, os anos passaram e não fizemos nada. Muitas vezes, eu não tenho vontade de ir à creche, mas vejo que precisamos ter disciplina e fazer aquilo que precisa ser feito, independentemente dos nossos desejos momentâneos”. Guardei aquelas palavras. Por isso, não pense mais na aposentadoria como um fim, mas sim como uma nova oportunidade: de aprender novas habilidades, de começar um novo projeto, de conhecer novas pessoas, de realizar sonhos que ficaram para trás.